quinta-feira, 25 de agosto de 2011

ENTRE O LEITE E O CAFÉ PRETO

Entre o leite e o café preto a gente vai coando uma vida por dia.
São tantas coisas para serem feitas dentro de um único espaço de tempo, que nem sempre paramos para perguntar, qual é mesmo o sentido de tudo?
Quem foi que disse que indo por aqui, eu vou chegar onde quero?
A gente planeja, constrói, pensa, sonha e descobre que uma vida é muito pouco para fazer o que se tem vontade. Deveríamos ter um segundo mandato.

Entre o leite e o café preto, a gente vai passando muita coisa por dia.
O dinheiro não compra tudo, porém se pagasse ao menos o que já foi comprado, facilitaria muito. Poderíamos ao menos nos divertir com o troco.
O que não dá é ficarmos assim, deixando tudo para amanhã como se fosse diferente. E o pior que não é. Se atrasarmos o boleto, meu amigo, hum... Só a multa, já paga outro cafezinho...

Entre o leite e o café preto, a gente vai assinando os cheques, as promissórias, as cartas de crédito, as faturas, e garante antes de tudo, de que esse gasto todo é realmente necessário. Se a gente deixasse dessa bobagem de ficar impressionando os outros, nosso custo de vida seria mais barato. O ruim é que a gente só descobre isso quando os anos levam para si a juventude que o dinheiro não compra de volta.
Nossa!! Como a vida passa depressa. Mal dá tempo de se tomar um café. O telefone não para de tocar, os compromissos não param chegar e o transito está cada dia pior.  São tantas obrigações, que a gente até se esquece do que não é obrigatório.

Entre o leite e o café preto a gente vai matando um leão por dia, e esse leão se alimenta das oportunidades que a gente deixa passar só para sofrer mais bonitinho. Mas, quem vive contente com o que tem, não tem pena de si mesmo. Até mesmo porque o pior de tudo a gente ainda nem conhece, por isso é melhor guardar para si o que ainda não está perfeito e trabalhar nas melhorias. Antes de chegar nos outros, o sorriso que vem da alma começa por nós.

Bom mesmo é saber que se tivéssemos que fazer tudo o já fizemos até hoje, faríamos igual, inclusive os erros, porque na verdade, tirando o branco do leite e o preto do café, o resto é o que nos faz feliz.

domingo, 14 de agosto de 2011

VELHO JEITO DE PAI

Tenho saudades do teu olhar de silêncio dotado de orgulho o tempo todo, e uma paz que dá o sossego depois do choro, envolvido num abraço calmo e confortante. Do gesto das tuas mãos pelos meus cabelos ou simplesmente do peso dos teus dedos sobre meus ombros. Do teu sorriso que me faz ainda parecer menino ou da tua bicicleta que da garupa me fazia parecer gigante.

Acordar com teus passos me fazia encontrar alegria na rotina e tranquilidades na luz do dia que viria, como se o mundo passasse correndo feito um brinquedo.

Teu chinelo sempre no canto esquerdo da porta e do teu olhar sereno, enquanto o café esfriava. Tinha tanta inveja daquele boné que te acompanhava em todos os lugares, onde nem sempre eu podia ir e em segundo de cumplicidade que ele guardava dos teus pensamentos. Não importava onde quer que fosse, era ao seu lado é que eu queria estar.
Ainda choro no meio da noite depois de um sonho ruim, mas não são os teus passos que vem me acalmar. Volto a dormir como se tuas mãos me dessem o repouso e sonho para te encontrar. Tua maneira de encontrar sentido em tudo e minha vontade de não querer outro sentido e mais nada. Dos teus pés que me mostravam o caminho no rastro preciso por onde o chinelo passava.
A alegria que era me vestir para passear pela cidade me fazia pensar que era dia de ganhar presente. E hoje até no jeito de arrumar seus óculos, eu repito só para parecer contigo.

Pode ser, Pai que por tantos momento eu não tenha encontrado a maneira certa de dizer como eu amo tanto, talvez porque nem mesmo soubesse dizer o quanto, no entanto tu sabias e guardavas contigo como um segredo grande igual a todas as coisas que descobriria bem mais tarde na vida.
É de ti que eu sinto saudades. Do teu doce e velho jeito de pai.


Feliz dia dos Pais.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Melhor faltar na noite dos namorados!

           A falta é um negocio engraçado. De repente chego à conclusão de que a ausência de algumas coisas faz que entendamos a razão de tudo. Se pararmos para pensar que isso começa desde a infância com a falta de um brinquedo, a falta de um irmãozinho, ou até mesmo de outras crianças circulando no playground vai começar a entender melhor do que estou falando. Depois a gente cresce e percebe que a falta continua como a de um grande amigo, de um grande amor, de uma rotina que nos faça entender na verdade quem somos. Já pensou como é terrível passar o dia dos namorados sozinho sem ter por quem pegar filas terríveis e gastar a paciência na fila do caixa? Sem contar à agonia que é sair à noite na cidade de São Paulo tentando encontrar um lugar sequer, nem que seja perto dos engradados de cervejas vazias, onde se possa sentar e rir de algumas bobagens em boa companhia.
Alguém já contabilizou a quantidade de términos de namoro depois desse fatídico dia? A quantidade de troca de sapatos por uma bolsa nova, aquela camisa listrada que só te engorda por um par de havaianas ou até mesmo aquele cd da Macy Gray do qual você só gosta da primeira musica. Nessas horas vale trocar o presente por qualquer coisa que lhe faça esquecer aquela namoradinha sem graça de dois dias atrás.
Nada é mais convergente do que o amor e uma data comercial como está.  Nessas horas é que a gente vê que o amor tem preço. Tem que valer a pena parar diante da vitrine e imaginar que a sua namorada ficaria linda naquele vestidinho preto quase “indefectível" sem o dia-a-dia que a deixará gorda naquele tecido todo repuxado alguns anos depois. Isso é o que chamamos de cair na realidade. Sem contar o grande “sincericídio” que fecha a noite do dia dos namorados, quando algumas pessoas resolvem matar umas às outras com seus rompantes de sinceridade do tipo: “Lembrei que já não te amo mais”, “Sabe eu andei pensando: Você não acha que seria melhor se a gente fosse apenas bons amigos?" Coisas desse tipo que faz com que a gente chegue à conclusão de que a falta de sensibilidade até para ter sinceridade também faz falta. Por isso é melhor acreditar na boa e velha dose do dia seguinte.
Nada de guardar fotografias desse dia e pendurá-las no Facebook para que seus amigos vejam que você estava muito feliz naquele jantar a luz de velas, de onde você ao acordar no dia seguinte se deparou deitado diante das sobras de cenário romântico do velho oeste como se aquilo tudo tivesse sido emprestado da novela das oito. Ai, a melhor saída é correr para o chuveiro depressa e se virar nos trinta antes que a limusine volte para locadora. É claro que ninguém passará por isso, e ainda que passasse, raras seriam as pessoas que contariam essa realidade algum dia. Vão preferir recontar o sexo selvagem que fizeram no tapete da sala, marcas de mordidas no calcanhar, as “esquentadinhas” no corrimão da escada, sem contar as juras de amor a base dos chicotinhos e alicates de cutículas. Já dizia minha avó: “O amor vicia tanto as pessoas que ninguém mais reconhece o prazer de ser feliz sozinho".
Voltando à cena do dia dos namorados, uma amiga me contou que resolveu dar bola para um japoneszinho que há dias estava no pé dela só para não ficar sozinha na noite fria e tumultuada dos namorados e já no meio do jantar nipônico, o cara resolveu escolher a pizza mais barata do lugar, propôs fazerem um brinde com refrigerante, comeu a metade da sobremesa dela e ainda propôs dividir a conta. Imaginem a cara que ela fez fingindo sair feliz do restaurante. Resultado: chegou em casa, deu boa noite, fechou a porta do carro e saiu sem dar um beijinho. Pobre da amiga que esperava fazer alguns pontos no X-box do japonês e agora vai ter que esperar pelo Natal. E pobre também do japonês que não entendeu os motivos de ter voltado para casa mais cedo, quando poderia ter passado umas horinhas a mais na casa da nova namorada para economizar com o motel.
Tá vendo como a vida às vezes faz uma sacanagem dessas com a gente? Melhor faltar no dia dos namorados do que passar por uma coisa dessas. Volta para o final da fila japonês que mulher bonita a gente tem que pagar o preço que vale, ainda que não coma os oito pedaços da pizza.
Não estou deprimido e nem tão pouco sou um dos tantos solitários que estarão disponivéis no dia dos namorados, apenas fui solidário a tantos casos como este. No entanto quem quiser o telefone da amiga ou do japonêszinho pão duro, posso providênciar.
              O que importa é que estando ou não acompanhado no dia dos namorados você se mantenha otimista, afinal de contas você não está sozinho porque quer, pelo contrário você é até “legalzinho”. Pena que é pobre. No mais dormir juntinho é muito bom, mas aprender a estar sozinho também vale a pena.

sábado, 4 de junho de 2011

SAUDADE DO RIO DA MINHA INFÂNCIA


Ah! Que saudade do rio da minha infância!
Lá as águas tinham vontade própria e a gente não tinha vontade alguma de sair de lá.
_No três a gente pula, está bem?
_1, 2,3... Êba!!!!
Lá a água era doce, doce que nem os bolos de chocolate que mãe da gente fazia e a gente levava para comer quando sentia fome.
Era tão bom poder ver os amigos da gente se divertindo, enquanto o dia ia passando na maior preguiça.
Subíamos na mangueira e lá de cima a gente gritava alto que nem Tarzan e se jogava de cabeça, segurando a ponta do nariz e tchum...saia sorrindo feito gente feliz.
Ah! Que saudades do rio da minha infância...
A tardezinha quando chovia, deixava a água quentinha e a gente mergulhava ainda mais fundo para buscar pedrinhas brancas e guardá-las na caixinha de madeira, cheio de iscas de peixe que a gente nunca colocava na água.
As roupas ficavam ensopadas com a água da chuva e a gente nem ligava para o que a nossa mãe diria quando nos visse daquele jeito. Mas, não tinha importância, não. Lá a gente não pensava no futuro. Só queríamos na verdade aproveitar a grandeza do presente.
Pensando bem, a gente pensava no futuro sim. O Zeca queria ser médico. Dizia que montaria um consultório próximo lá do rio, para que quando algum outro garoto se machucasse tivesse a quem recorrer, e assim nenhuma mãe desconfiaria quando voltasse pra casa.
O Fabinho disse que seria astronauta e que lá do espaço, ele nos mandaria um sinal com reflexo de espelho quebrado, tipo aquele que a gente colocava mirando para o sol, anunciando da cerca que a turma iria se reunir no riachinho...

Ah! Que saudades do rio da minha infância...
Lá a gente era feliz e não sabia. Éramos todos ricos, ricos das próprias incertezas que a vida nos reservaria. Saudade daquele cheiro de mato, da água fria e dos sabiás cantando da goiabeira, gravado num cenário que a gente cresceu vivendo e que hoje me faz chorar de saudade.
Aquele cheiro de lenha queimando no fogo, o gosto do caju apanhado do pé, o cheiro de capim espinhando as costas...

Hoje puseram um cerca lá.
Puseram uma cerca onde não havia limites, onde não havia dono, onde não havia um pedaço de chão que a gente já não tivesse colocado a planta do nosso pé.
Separaram o que foi infância do que hoje tem preço. E a gente não vai mais lá.
Separam o que era pra sempre, e puseram a metade do outro lado, como se pudessem dividir o que já foi inteiro... E a gente não pode ir mais lá.
A velha calça rasgada e os chinelos sujos de lama, já não calçam mais meus pés, é verdade. O Fabinho, hoje é o Seu Fábio, dono de um pequeno ranchinho na beira da estrada e o Zeca hoje trabalha na cidade grande e eu que nem tinha vontade de ser gente alguma, virei Doutor. Como é essa vida!
Ah! Que saudades do rio da minha infância!
Lá eu fui inteiro num pedaço que era só metade, porque o resto era dividido entre nós.
E metade... Metade já foi aquilo tudo inteiro, moço!
Deu saudade da época em que as cercas não me diziam o que dizem hoje.

Puseram uma cerca no rio da minha infância e trancaram o meu peito no leito daquele rio.
_No três a gente pula, está bem?
_1, 2,3...
Adeus!