sábado, 11 de agosto de 2012

CONVERSA, PAI!


Conversa, pai, porque eu preciso lhe falar de saudade. 

Do teu chapéu largado em cima da mesa e dos teus chinelos do lado esquerdo da porta me dizendo que você está aqui.
Preciso te falar da saudade que sinto quando falo de ti e de todas às vezes que meus olhos se enchem de lágrimas pela falta que você me faz.
Saudade de ouvir a sua voz sempre acompanhada de um sorriso e da tua habilidade em consertar as coisas que se quebravam com o tempo.
Conserta meu coração, pai que já se quebrou com a distância?

Lembro de todos os presentes que recebi sem merecer e da alegria quando passavas às mãos nos meus  cabelos me chamando de amigo.
Nunca te falei que aprendi a arrumar os meus óculos só para  parecer-me contigo.

Conversa, pai, porque eu preciso lhe falar de saudade.
De brincar de Super Herói com as tuas ferramentas e  de todas aquelas que entortei sem querer. 
Teu lápis quebrado que tantas vezes coloriu o meu desenho.

Será que não existe uma maneira de parar o tempo e voltar na garoupa da tua bicicleta só pra fingir que o mundo era o outro lado da rua e que eu não poderia atravessar sem segurar a tua mão?
E quantas vezes foram às vezes que eu fingi que ela estava ali toda vez que precisava.

Conversa, pai, porque eu preciso te falar de saudade. 
Preciso te falar que estou mais uma vez chorando no quarto, só para você vir  acalmar esse meu pranto, que amanhã tudo torna a dar certo e fazer-me dormir.

Hoje quando meus olhos fitam teus olhos eu encontro o homem que eu me tornei quando cresci e agradeço tanto a vida por não me fazer diferente do pai que eu conheci.
Acho que até o dom de chorar eu herdei de ti.

Eu não faço questão de ser tudo, mas a pressa de crescer e coragem que inventei só pra ver o mundo de onde consegui, eu fiz porque eu queria que no fundo que eu tivesse um pouco de ti
Quem sabe um dia quando meu filho olhar teu sorriso, ele possa perceber 
Que eu preciso nascer de novo, pai
Pra ser  melhor que você.



sexta-feira, 6 de julho de 2012

REGRESSO


Há dias que a gente acorda com uma vontade enorme de recomeçar. Uma vontade de poder rever um ponto. De voltar ao começo. De reinventar. De tornar a pegar o lápis e redefinir um traçado, contornar outro ponto de vista e refazer algo que não fora feito direito. 

Há dias que a gente quer voltar no princípio do caminho. De onde as pedras ainda não rolaram, nem tão pouca poeira conhecia a sola do sapato só para ter o prazer de reestrear, de entrar pela porta como se não tivesse passado por ela. Uma possibilidade de acreditar de novo.

Como se fosse possível apagar a palavra e silenciar aquilo que foi dito, não quebrar a promessa ou o que ainda fosse possível.

Àquele tipo de saudosismo que faria bem se pudesse ser reinventado ou um sentimento que pudesse ser sentido. Um tipo de pranto não chorado ou um adeus não repetido.

Seria bom se pudesse voltar ao nascer do sol daquele dia e que ele não chegasse a poente ou uma madrugada que retardasse à noite, antes que o dia vingasse. 

Àquele dia que não dissemos o que deveria ser dito, mas que por não dizer saiu errado. Que pudesse ser esquecido, apagado, redescoberto e perdoado, antes de tudo a si mesmo, do contrário de nada valeria voltar ao tempo.