sábado, 4 de junho de 2011

SAUDADE DO RIO DA MINHA INFÂNCIA


Ah! Que saudade do rio da minha infância!
Lá as águas tinham vontade própria e a gente não tinha vontade alguma de sair de lá.
_No três a gente pula, está bem?
_1, 2,3... Êba!!!!
Lá a água era doce, doce que nem os bolos de chocolate que mãe da gente fazia e a gente levava para comer quando sentia fome.
Era tão bom poder ver os amigos da gente se divertindo, enquanto o dia ia passando na maior preguiça.
Subíamos na mangueira e lá de cima a gente gritava alto que nem Tarzan e se jogava de cabeça, segurando a ponta do nariz e tchum...saia sorrindo feito gente feliz.
Ah! Que saudades do rio da minha infância...
A tardezinha quando chovia, deixava a água quentinha e a gente mergulhava ainda mais fundo para buscar pedrinhas brancas e guardá-las na caixinha de madeira, cheio de iscas de peixe que a gente nunca colocava na água.
As roupas ficavam ensopadas com a água da chuva e a gente nem ligava para o que a nossa mãe diria quando nos visse daquele jeito. Mas, não tinha importância, não. Lá a gente não pensava no futuro. Só queríamos na verdade aproveitar a grandeza do presente.
Pensando bem, a gente pensava no futuro sim. O Zeca queria ser médico. Dizia que montaria um consultório próximo lá do rio, para que quando algum outro garoto se machucasse tivesse a quem recorrer, e assim nenhuma mãe desconfiaria quando voltasse pra casa.
O Fabinho disse que seria astronauta e que lá do espaço, ele nos mandaria um sinal com reflexo de espelho quebrado, tipo aquele que a gente colocava mirando para o sol, anunciando da cerca que a turma iria se reunir no riachinho...

Ah! Que saudades do rio da minha infância...
Lá a gente era feliz e não sabia. Éramos todos ricos, ricos das próprias incertezas que a vida nos reservaria. Saudade daquele cheiro de mato, da água fria e dos sabiás cantando da goiabeira, gravado num cenário que a gente cresceu vivendo e que hoje me faz chorar de saudade.
Aquele cheiro de lenha queimando no fogo, o gosto do caju apanhado do pé, o cheiro de capim espinhando as costas...

Hoje puseram um cerca lá.
Puseram uma cerca onde não havia limites, onde não havia dono, onde não havia um pedaço de chão que a gente já não tivesse colocado a planta do nosso pé.
Separaram o que foi infância do que hoje tem preço. E a gente não vai mais lá.
Separam o que era pra sempre, e puseram a metade do outro lado, como se pudessem dividir o que já foi inteiro... E a gente não pode ir mais lá.
A velha calça rasgada e os chinelos sujos de lama, já não calçam mais meus pés, é verdade. O Fabinho, hoje é o Seu Fábio, dono de um pequeno ranchinho na beira da estrada e o Zeca hoje trabalha na cidade grande e eu que nem tinha vontade de ser gente alguma, virei Doutor. Como é essa vida!
Ah! Que saudades do rio da minha infância!
Lá eu fui inteiro num pedaço que era só metade, porque o resto era dividido entre nós.
E metade... Metade já foi aquilo tudo inteiro, moço!
Deu saudade da época em que as cercas não me diziam o que dizem hoje.

Puseram uma cerca no rio da minha infância e trancaram o meu peito no leito daquele rio.
_No três a gente pula, está bem?
_1, 2,3...
Adeus!

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